M.G. nunca teve ideia de conhecer pessoalmente o seu
afilhado. Veio a saber que os pais viviam continente, mas que
o Guerrinha tinha ligações à ilha: a mãe era madeirense e tinha
familiares aqui que a conheciam. Nunca teve a preocupação de os ir procurar.
Ele contava da sua angústia , de
uma grande preocupação de não sair de lá, vivo. Contava poucas coisas da
guerra. Ela só lhe dava apoio naquilo
que ele lhe dizia , porque não tinha muito mais para lhe dizer: não era da
terra, não conhecia a familia....mas
inventava um bocado de conversa.
A ideia era mesmo essa: conversar, entreter e dar alento.
Não assinavam o seu nome. Ela diz
não se lembrar do nome que lhe chamava. A memória, entretanto, trouxe-lho:
Jonas. Ela chamava-se MAGA ( e ela soletra). Adotaram estes nomes desde o
princípio. E até ao fim.
Um dia, M. G. recebe um aerograma do rapaz , dizendo
que vinha a Portugal, que tinha tido licença para vir ao continente e que
queria conhecê-la. Nesse tempo - e ele
já sabia disso- ela estava em Lisboa, no Centro d do Alcoitão, a fazer o curso
de Enfermagem de reabilitação. Nesse tempo, na Ortopedia Cirúrgica, a
enfermeira já conhecia bem a dor das experiências traumáticas, dos jovens
acidentados, dos traumatizado de guerra.
Pensou algumas vezes que, um
daqueles rapazes poderia ser o seu
afilhado... . E isso fazia dar-lhe mais força, para que ele se empenhasse mais
em que isso não acontecesse, que tivesse cuidado.. . Não queria pensar na
possibilidade de nunca mais receber aerogramas, talvez porque no seu intimo do intimo nunca pensou que ele
pudesse morrer....
Quando ele veio (ri), quis saber
o seu contacto, deu-lhe o número do telefone do Centro do Alcoitão, marcaram um
encontro e encontraram-se. Ela disse como é que ia vestida (ri). Lembra-se da
roupa que levava: uma sainha conzenta e um puloverzinho
branco e um casaco cor de flor de tabaibo.... era um vermelho claro,
alaranjado... forte.
Nunca tinham trocado fotografias.
Apenas palavras. Nada de intimidades. Foi
uma correspondencia muito séria.
Depois, a coisa mudou um
bocadinho. Gumercinda não foi atrás de conversas, mas o que é certo é que percebeu
que ele queria outra coisa para além da amizade.
Não aceitou o namoro, mas ele
insistiu e depois ela disse que não, que ele fosse acabar a tropa e que
conversariam quando ele voltasse.
- ele perguntou-me porquê e eu
fui bruta. Disse-lhe que, entretanto,
podia aparecer um rapaz de quem gostasse mais . Isto era para que ele me tirasse da ideia e se libertasse de mim ...
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