segunda-feira, 8 de julho de 2013

MADRINHA DE GUERRA o encontro


 

M.G. nunca teve ideia de conhecer pessoalmente o seu afilhado. Veio a saber que os pais viviam continente,  mas que  o Guerrinha tinha ligações à ilha: a mãe era madeirense e tinha familiares aqui que a conheciam.  Nunca  teve a preocupação de os ir procurar.

Ele contava da sua angústia , de uma grande preocupação de não sair de lá, vivo. Contava poucas coisas da guerra.  Ela só lhe dava apoio naquilo que ele lhe dizia , porque não tinha muito mais para lhe dizer: não era da terra, não conhecia a familia....mas  inventava um bocado de conversa.  A ideia era mesmo essa: conversar, entreter e dar alento.

Não assinavam o seu nome. Ela diz não se lembrar do nome que lhe chamava. A memória, entretanto, trouxe-lho: Jonas. Ela chamava-se MAGA ( e ela soletra). Adotaram estes nomes desde o princípio. E até ao fim.

Um dia,  M. G. recebe um aerograma do rapaz , dizendo que vinha a Portugal, que tinha tido licença para vir ao continente e que queria conhecê-la. Nesse tempo -  e ele já sabia disso- ela estava em Lisboa, no Centro d do Alcoitão, a fazer o curso de Enfermagem de reabilitação. Nesse tempo, na Ortopedia Cirúrgica, a enfermeira já conhecia bem a dor das experiências traumáticas, dos jovens acidentados, dos traumatizado de guerra.

Pensou algumas vezes que, um daqueles rapazes  poderia ser o seu afilhado... . E isso fazia dar-lhe mais força, para que ele se empenhasse mais em que isso não acontecesse, que tivesse cuidado.. . Não queria pensar na possibilidade de nunca mais receber aerogramas, talvez porque no seu intimo do intimo nunca pensou que ele pudesse morrer....

Quando ele veio (ri), quis saber o seu contacto, deu-lhe o número do telefone do Centro do Alcoitão, marcaram um encontro e encontraram-se. Ela disse como é que ia vestida (ri). Lembra-se da roupa que levava: uma sainha conzenta e um puloverzinho branco e um casaco cor de flor de tabaibo.... era um vermelho claro, alaranjado... forte.

Nunca tinham trocado fotografias. Apenas  palavras. Nada de intimidades. Foi uma correspondencia muito séria.

Depois, a coisa mudou um bocadinho. Gumercinda não foi atrás de conversas, mas o que é certo é que percebeu que ele queria outra coisa para além da amizade.  

Não aceitou o namoro, mas ele insistiu e depois ela disse que não, que ele fosse acabar a tropa e que conversariam quando ele voltasse.  

- ele perguntou-me porquê e eu fui bruta.  Disse-lhe que, entretanto, podia aparecer um rapaz de quem gostasse mais . Isto era para que ele me  tirasse da ideia e se libertasse de mim ...

 

Sem comentários:

Enviar um comentário