Episódio 3: o regresso
Continuaram, porém a
corresponder-se. Quando ele voltou , levou-a
a conhecer os miradouros bonitos de Lisboa, sempre com muito respeito.
Um dia, tiveram de se recolher debaixo de uma árvore, porque começou uma chuva
de granizo, ela sacudiu-lhe o casaco
e ela entendeu que aquele rapaz se tinha
apaixonado por ela. E teve medo. E deu-lhe a entender que não.
Continuaram a encontrar-se: ele
ia buscá-la ao comboio, iam lanchar juntos a uma confeitaria, conversavam. Era
um homem ciumento, o Guerrinha, ou o Jonas. E ela não queria para si um homem
que a impedisse de olhar , de falar, de rir...
Depois, deixaram de se ver. M. G.
tinha alugado um quarto numa casa de familia. Às vezes, o telefone tocava ,
perguntava por ela e ninguem falava.
- só podia ser ele. eu não
conhecia mais ninguém.
M.G. escreveu-lhe, então, duas cartas para a casa dos pais: uma,
zangada e outra mansa. Dizia que queria ser amiga dele, que não se sentia bem
em ser uma pessoa zangada, porque lhe tinha dedicado o seu tempo. Que ele
escolhesse uma das cartas, que qualquer delas identificava a sua personalidade
e a sua maneira de pensar.
Um dia, recebe a resposta.
Pedia-lhe que o deixasse crescer, que não havia de demorar muito tempo.
Ela não gostou dessa conversa.
Ela já percebera que ele gostava dela, que tinha boa intenção, mas estar ali
tão perto e não se verem – ela que estava sozinha em Lisboa ...
Um dia, marcaram encontro no Cais
do Sodré, para irem almoçar a casa de um irmão que vivia na outra banda. Ela
inventou uma desculpa e não foi.
Veio embora para a Madeira e não
lhe disse nada. Um dia, vinha da praia, em Câmara de Lobos, viu-o. Ficou tão
atrapalhada, tão aflita, não sabia se falava ou não:
- Olhei para as Rochas do Rancho,
para o Rancho, para o Cabo Girão, passei por ele como se não o conhecesse. Ela
subiu e não voltou a olhar para trás.
Passados anos, ele casou-se, ela também.
Não sabiam um do outro.
Num 1ºde janeiro, de manhã, M. G. recebe um
telefonema. Reconheceu a voz. Era o Jonas. Olhou para cima e viu o marido na
escada. (ri) Já era casada e tinha filhos. Perguntou-lhe como tinha conseguido o seu
número de telefone. Explicou: tinha ligado para a Madeira e a mãe dela tinha
dito que ela estava no Porto .
Contou-lhe, então, que se tinha casado, que tinha 2 filhos e que
estava divorciado . Ela disse que se tinha casado também.
Se podiam voltar a ser amigos?
Não. Ele continuava a manifestar a mesma insegurança da juventude. Nunca mais
se viram.
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