Em conversas velhas de tempos antigos, Lília desencantou
esta fotografia. O pai, bomboteiro, expunha, no convés do Noruega, os bordados
que trazia na lancha: uns devidamente certificados, outros, não.
Ficámos à mesa, desfiando memórias: que nadava entre as
lanchas, com os rapazes, que o pai lhe gritava da canoa que voltasse para
casa, que aquilo não era para raparigas, que eram tempos duros, que tem
saudades, que.
Viviam ali, na babugem do mar, no Beco do
Socorro. Viviam dos navios e do que se passava à volta deles. De vez em quando, no bolso do casaco do pai, havia um chocolate, um sabonete, uma novidade. Era o luxo do mundo que entrava em casa.
Ficámos à mesa. Nós. Um pouco perdidos no navio, no olhar de marítimo do pai da Lília que tentava lembrar-se do número da licença que estava gravado na barreta.
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