quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Memórias de maio [evocações]
Às nossas mãos chegaram versos da Ponta de Sol, datados de 1
de maio de 1938, devidamente assinados por duas senhoras: Laurencia Amado de
Freitas e Guiomar de Freitas Pita
Ferreira. Evocam a festa dos Pinheiros e os “brincos” da serra, entre
piqueniques e namoros. Evocam as cantigas de roda e o tempo que as manchas
gravaram no papel de carta.
Hoje, 1º de maio,
Há festa cá nos Pinheiros
Vem da vila e do Funchal
Quantidade de romeiros
(...)
Ou ainda:Hoje é dia de alegria
Ninguem pode duvidar
Vem toda a gente aos Pinheiros
Para o maio festejar.
À nossa memória, chegaram outros maios, de outros lugares,
de outros tempos: a Procissão do Voto a São Tiago Menor, os passeios ao
Palheiro Ferreiro, a estreia de um vestido de chita e de alpargatas coloridas, os
bailes, a laje, os colares de maios, as cantigas de roda....
Continuamos à sua espera. Traga-nos memórias de outros
tempos, de outras festas, de outros momentos. Precisamos delas para construir a
Nossa História Coletiva.
Remembering May Day
We have received some popular poems written in
May, 1st 1938 in Ponta do Sol signed by Laurenciana Amado de Freitas
and Guiomar de Freitas Pita Ferreira during the May Day Festival. This feast was celebrated by the community in
a place called Pinheiros and where people used to spend the day, doing picnics,
playing, dancing and flirting, of course.
Today is May Day
and there is a feast at Pinheirosmany people come up here
from the village and from Funchal
Today we are all happy
there is no doubt about itmany people come to Pinheiros
to celebrate May Day.
(OBS: We apologize for perhaps having killed
poetry with our translation)
All this made us remember so many other May Day
Festivals, in other places, in other times: the São Tiago Procession, the
picnics at Palheiro Ferreiro, the new dress girls wore to match the colourful
tennis shoes, the dancing balls, the necklaces made of flowers, the singings…
We are still waiting for you stories. Please,
come and share with us your memories, your dearest moments. They are important
to get to know us better. You are part of History.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Às avessas
Um casamento por procuração. Um baú cheio de sonhos
misturados com o dote num vapor do Cabo. Um homem de chapéu à sua espera
em “Capitão”
[ porque de Cape Town não conhecia o sentido]. Um comboio. Joanesburgo. Um medo
enorme do futuro numa casa pronta à sua espera.
Ilda traz uma história triste para contar: uma história de
inteira submissão ao marido, de inteiro desconhecimento do dinheiro, de inteiro
desconhecimento da língua, de dores e de lágrimas, de medo, de solidão.
Sozinha, em casa, no silêncio angustiante de quem não sabe
dizer uma palavra, vive uma gravidez sem acompanhamento, um filho com deficiência
e outras coisas que não conta mas que os olhos e a inquietude das mãos
denunciam. Traz uma história de negócios
ilícitos, de prisões e de fugas.
Regressa. Só na ilha
se assume Eu:
- o negócio era meu, fui eu que escolhi a casa, agora sou eu que mando .
A nossa história não é uma história feliz. Mas talvez seja a
história comum de muitos emigrantes que só se encontraram com a vida quando regressam a casa.
Upside-down
The
marriage was arranged. She barely knew him. She packed a bag and went on board
to Cape Town, South Africa. There was a man wearing a hat waiting for her at
the harbour. A train took her to Johannesburg. She could hardly disguise the
anxiety of a future totally unexpected and a house waiting to become a family
home.
Ilda has
shared a sad story with us: she was a submissive wife, she did not speak
English and thus she was totally dependent on him even for money. Her husband
was involved in illegal business. He was arrested. Then he ran away. She did
not know of his whereabouts.
Alone at
home, without being able to speak a word with nobody she endured a pregnancy
with no medical surveillance. A disabled son was born and she remembered the
pain, the suffering, the tears, the fear and the loneliness. She did not say
too much but her trembling voice and hands denounced so much more.
Later, the
family came back to Madeira. Only then Ilda had the willing force to become a
self:
-
I decided to buy a greengrocer’s, I
chose the house to settle in, now, I was in charge.
This is not
a happy story but life isn’t always colourful and we are sure that some
emigrants who left Madeira looking for better living conditions, sometimes had
to come back in order to find exactly what they were looking for.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
PEDAÇOS DA HISTÓRIA DE T. [gentilmente cedidos pela própria]
(n. Caracas,
1952)
1957 – 1ª vinda à Madeira –
paquete Vera Cruz:
“Ao chegar cá é que não gostei
muito do que vi. Tínhamos de fazer o transbordo para uma pequena lancha que,
por sua vez, nos levava até ao cais, porque na época não existia o molhe da
Pontinha e isso assustou-me um pouco.”
“(...) lá fomos nós, rumo a Machico.
(...) Fomos num táxi daqueles antigos, descapotáveis, que eram usados para
transportar turistas. Aquela viagem durou quase duas horas. Aquelas estradas
eram tão estreitas, com tantas curvas, para uma criança como eu, era uma
autêntica aventura. O mais divertido era quando passávamso pelas pessoas e elas
gritavam: “olha os ingalêses (...)”
Sobre a Escola:
“Guardo na memória os exames
(...) O que mais nos impressionava era o ambiente, que parecia um tribunal,
pois testemunhavam os exames o embaixador de Portugal, o Cônsul de Portugal, o
director do colégio e todos os professores. (...) Depois de acabar a escola (digo acabar, porque
se eu quisesse continuar, teria de vir para Portugal), mudámo-nos para outra
cidade (...) de Caracas fomos para La Guaira, onde o meu pai abrira umapadaria,
na qual eu fui trabalhar ao balcão durante quatro anos”
1968 - O regresso
(...) A ideia de voltar não
agradava a mim nem à minha irmã mais nova (...). Desta vez o navio já acostou
na Pontinha(....). (Alguma coisa tinha evoluido na Madeira). E lá estavam os
nossos familiares à nossa espera. Foi um choque (...). O grupo quase parecia
saído de um lar de terceira idade. Achei tudo muito mais pequeno do que da vez
anterior. Parecia impossivel que naquelas ruas pudesse caber um carro. (....)
tudo era pequeno demais.
Os anos seguintes foram de
aprendizagem, já que tudo era novo para mim (...) .
T’s life story pieces
(Kindly shared with us)
(born in Caracas,1952)
1957 – 1st trip to
Madeira – on board Vera Cruz:
“ when I first came I did not
like Madeira very much. We had to board into a small rowing boat which took us
to the pier, because at that time there was no harbor in Pontinha and that
scared me a lot”.
“(…) then, we went to Machico.
(…) we took a taxi, a convertible car that was used to transport tourists. It
took us three hours to get there. The roads were narrow and winding but, for
me, a young child, it was a lot of fun. I really enjoyed passing by and
listening to the people saying: look,
there go the English (…)
About the school:
“I remember the exams (…) the
atmosphere was heavy, it seemed like a court because the Portuguese Ambassador,
the Portuguese Consul, the School Master and all the teachers used to be
present (…) then, when I finished school (if I have wished to carry on studying
I would have been obliged to come back to Portugal) we moved to another city
(…) we moved from Caracas to La Guaira where my father established a Baker’s. I
worked there for four years.
1968 – the return:
(…) Me and my younger sister we
did not want to come back (…) this time, however, the vessel anchored at
Pontinha (…) . (Some progress was evident after all). Our family was there
welcoming us. What a shock to look at them and realize they seemed to have just
left the elderly shelter, all too old. Besides, everything seemed now much
smaller than before. How could cars circulate in these narrow streets? (…)
everything was too small indeed.
During the following years I have
learned to live a new life (…)
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Madrinhas de guerra – anjos que adoçavam o medo....
XXXXXXXXX , o cavaleiro do ar, soldado para-quedista n.º xxxxx, em
XXXX [Angola, Moçambique, Guiné....] , deseja corresponder-se com menina dos
17 aos 25 anos, alegre, comunicativa e que goste de música pop. Resposta para
o SPM xxxxxxxxx..
|
Bastava um anúncio. Bastava a generosidade das raparigas. Ou
a ilusão cor-de-rosa de estar a cumprir um dever.
Longe da vida, os militares viviam na expetativa da chegada
do correio. Os aerogramas – ou bate-estradas
– traziam novas do mundo, da paz, da terra, da alegria. O que se pedia às
Madrinhas – anjos que lhes adoçavam o
medo – era que lhes escrevessem e lhes transmitissem coragem, confiança, orgulho
pela prestação de um importante serviço à Pátria. Aquele. O de dar a juventude
[e a vida].
Do lado de cá, elas
esperavam a volta do correio. E as palavras deles. E um retrato. E a esperança
nas palavras finais: “Adeus e até ao meu regresso.”
Ainda está por
estudar a função destas meninas – mulheres – anjos que seguraram o fio de
muitas vidas do outro lado do Império. Este pode ser o princípio. Para isso,
precisamos de conhecer as histórias das madrinhas de guerra, precisamos de ver
as cartas que guardaram, precisamos de mostrar a sua importância.
SE FOI MADRINHA DE GUERRA OU GUARDA ESSAS MENSAGENS, POR
FAVOR CONTACTE-NOS. Estamos aqui.
Rua das Mercês, nº 8 , Funchal
Tel: 291 214 970
Email:
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Na guerra - as madrinhas
Zélia Sousa sorri. Sim, foi madrinha de dois soldados. Não, não deu em casamento. Numa conversa descontráida, conta dessa amizade que as raparigas – devia ter aí uns 15 ou 16 anos – mantinham com um militar que defendia o que era nosso. Angola era nossa, pelo que, aos olhos desse tempo, era preciso queos nossos rapazes estivessem lá.
Conta que nas revistas – a memória não lhe trouxe o nome, mas é capaz de visualizar a capa [não era pequenina como a Crónica Feminina], talvez a Flama ou outra do género, - havia nas páginas finais anúncios de soldados a pedir correspondentes femininas, madrinhas portanto.
Diz que escolheu um nome, ao acaso. Veio a saber, mais tarde, que era da Madeira. Coincidências.
- Aquilo era para nós uma missão. Tínhamos a obrigação de fazer alguma coisa por aqueles jovens que estavam longe da pátria, longe dos seus. A ideia era criar amizades e fazer alguém feliz.
Elas falavam de trivialidades, de coisas banais.... Eles falavam da guerra, do lugar onde estavam. Elas gostavam. Queriam muito saber coisas dessas províncias que ouviam falar na escola, de que decoravam as linhas de caminho de ferro e os rios. Movia-as a curiosidade e a possibilidade de se corresponderam com um rapaz no Ultramar.
Lembra-se de, enquanto madrinha, procurar nos jornais notícias do lugar onde estava o afilhado. Lembra-se de ir aos correios pedir os aerogramas. E de não pagar nada. Lembra-se de se preocupar se a resposta demorava.
Quando ele voltou, combinaram um encontro. Ela viu-o de longe. Não se apresentou. Nunca mais o viu.
War godmothers
Zélia Sousa smiled when she told us she had been the godmother of two soldiers. And then she explained: no, I did not get married to neither of them. Enthusiastically she recalled how this type of connection between the soldier who were at the battle field fighting for our country and the many young girls. At that time, Angola belonged to us so it was normal to have young men sent there to protect the territory. She explained that in some magazines, which she cannot remember the name, although she can still visualize the front page [not so small as the magazine Crónica Feminina], maybe it was Flama or some other – there were ads where soldiers asked for a godmother. She told us she picked one, by chance and later found out he was also from Madeira Island. What a coincidence.
- We believe it was like a mission. We felt we had an obligation towards those young boys. We had to do something for them since they were far away from home and family. The main idea was to entertain them, and so we wrote about everyday life, simple stuff … and they answered back giving details about the war and the place they were. We, girls, liked it a lot. It was a way of getting to know about the provinces that we had learned at school. I believe curiosity was an important figure in this process.
She remembered to look at the papers so as to find news about the place where her godsons were. She also remembered going to the post office to collect the aerograms. It was free of charge. She also remembered to get worried when the answer did not arrive soon. When he came back, a meeting was arranged. She saw him at a distance. She had looked at him for some minutes and then she turned back and went away.
- Aquilo era para nós uma missão. Tínhamos a obrigação de fazer alguma coisa por aqueles jovens que estavam longe da pátria, longe dos seus. A ideia era criar amizades e fazer alguém feliz.
Elas falavam de trivialidades, de coisas banais.... Eles falavam da guerra, do lugar onde estavam. Elas gostavam. Queriam muito saber coisas dessas províncias que ouviam falar na escola, de que decoravam as linhas de caminho de ferro e os rios. Movia-as a curiosidade e a possibilidade de se corresponderam com um rapaz no Ultramar.
Lembra-se de, enquanto madrinha, procurar nos jornais notícias do lugar onde estava o afilhado. Lembra-se de ir aos correios pedir os aerogramas. E de não pagar nada. Lembra-se de se preocupar se a resposta demorava.
Quando ele voltou, combinaram um encontro. Ela viu-o de longe. Não se apresentou. Nunca mais o viu.
War godmothers
Zélia Sousa smiled when she told us she had been the godmother of two soldiers. And then she explained: no, I did not get married to neither of them. Enthusiastically she recalled how this type of connection between the soldier who were at the battle field fighting for our country and the many young girls. At that time, Angola belonged to us so it was normal to have young men sent there to protect the territory. She explained that in some magazines, which she cannot remember the name, although she can still visualize the front page [not so small as the magazine Crónica Feminina], maybe it was Flama or some other – there were ads where soldiers asked for a godmother. She told us she picked one, by chance and later found out he was also from Madeira Island. What a coincidence.
- We believe it was like a mission. We felt we had an obligation towards those young boys. We had to do something for them since they were far away from home and family. The main idea was to entertain them, and so we wrote about everyday life, simple stuff … and they answered back giving details about the war and the place they were. We, girls, liked it a lot. It was a way of getting to know about the provinces that we had learned at school. I believe curiosity was an important figure in this process.
She remembered to look at the papers so as to find news about the place where her godsons were. She also remembered going to the post office to collect the aerograms. It was free of charge. She also remembered to get worried when the answer did not arrive soon. When he came back, a meeting was arranged. She saw him at a distance. She had looked at him for some minutes and then she turned back and went away.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Um tesouro
[excerto de uma carta de Maria da Conceição XX ao marido emigrado no Curaçao.]
Lugar de Baixo, 16 de Junho de 1930
Meu querido e para mim sempre lembrado marido do meu saudoso coração.....
(...)
Ultima vez que te vi
Jurei no meu coração
de acabar e morrer por ti
3
Não pences por estar longe
Que de ti me hei de esquecer
Quanto mais longe estiveres
Mais amôr te hei de ter
7
Tenho-te todo na ideia
Nos meus olhos retratados
Assim te trago em meu peito
No coração encerrado
8
Não há hora nem estante
Que me vães do pensamento
Escreve-me todos os mezes
Dá allivio ao meu tormento
13
Recomendo a Sam Francisco
E ao pae do ceu adorado
Para levar esta carta
Ás tuas mãos meu amado.
Maria da Conceição....
( transcrito conforme o original)
Lugar de Baixo, 16 de Junho de 1930
Meu querido e para mim sempre lembrado marido do meu saudoso coração.....
(...)
2
No dia nove de OutubroUltima vez que te vi
Jurei no meu coração
de acabar e morrer por ti
3
Não pences por estar longe
Que de ti me hei de esquecer
Quanto mais longe estiveres
Mais amôr te hei de ter
7
Tenho-te todo na ideia
Nos meus olhos retratados
Assim te trago em meu peito
No coração encerrado
8
Não há hora nem estante
Que me vães do pensamento
Escreve-me todos os mezes
Dá allivio ao meu tormento
13
Recomendo a Sam Francisco
E ao pae do ceu adorado
Para levar esta carta
Ás tuas mãos meu amado.
Maria da Conceição....
( transcrito conforme o original)
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
CUMPRIMOS
E quando o tempo se imobiliza durante três anos? E quando se
arrumam projetos, na incerteza de os concretizar? E quando se parte, sem se
saber do regresso? E quando se pendura a vida no cabide do dever?
A nossa história foi passando por estas perguntas. E tem
todas as categorias da narrativa: um protagonista – Paulo Camacho; um tempo –
1969-1971; um espaço – Angola; e a ação – guerra do Ultramar.
Em 40 minutos de conversa, passaram palavras e silêncios, passaram
emoções e opiniões, passaram sorrisos e angústias. Falou-se da inevitabilidade
da partida,
- Eu sabia que ia ser mobilizado.
Quando partiu, em 1969, já se
questionava aquela guerra, a JOC, de uma forma velada, tinha um papel na
consciencialização da juventude. Que guerra era aquela? Para quê? Para quem?
Que interesses estavam atrás daquele dever?
- Mas então? Era ir ou desertar.
Falou-se das cartas, das notícias “trabalhadas” dos jornais;
falou-se do medo e das dicas dos que já conheciam os segredos da guerra;
falou-se de gestão de tempo e de emoções; falou-se da noiva que ficara à
espera:
- eu não precisava de madrinha de guerra. Tinha quem me
escrevesse.
A conversa levou-nos, então, para o campo de batalha, dos
laços que uniam todos os homens da companhia, da desconfiança dos nativos, das
traições, das “fogueirinhas” que a noite do mato denunciava. Conta do “inimigo
“e dos movimentos que era preciso combater.
Trouxe-nos um “troféu de guerra”, com vestígios de morte:
- Nesse dia, matámos….
E a dor do verbo há-de doer-lhe
para sempre. A lembrança:
- ou eles ou nós.
Com emoção – nas mãos e na voz – faz desfilar os retratos e
lê as notas que a memória guardou.
- Não podíamos ganhar aquela guerra. Estávamos isolados do
resto do mundo. Tínhamos armas obsoletas. Eles (os que mandavam) não entenderam
os sinais, nem os exemplos dos outros.
Era uma guerra com prazo.
Depois, foi
recomeçar. Carregando o passado. E as lembranças. E as dores. E as sequelas. E.
“We did our job”
And if time
had stood still for 3 years? And if all the projects and dreams of a life had
to be postponed or eventually put aside? And what do you feel when you have to
leave without knowing whether you would ever come back? And what do you feel
when you had no other choice?
Today’s
story was based on all of these questions and it can be presented as a
narrative: it has a main character- Paulo Camacho; a period of time –
1969-1971, a place – Angola, and a plot – the war at Overseas Portugal.
We had a 40
minutes’ conversation full of words and silences, emotions, opinions, smiles,
tears and pain. He talked about the mobilisation. It was compulsory. There was
no choice,
-
I
knew they were going to call me.
When he
left, back in 1969 the war was already being questioned, and the JOC, although
unveiled, tried to convince the young men to join the army and defend the
motherland. But what kind of war was that, after all? What were these men
fighting for? What interests were behind all of this?
-
The
only possibility was to go. The other was to runaway.
He talked
about the correspondence; the “fabricated” news for the local papers; the fear
and advice from those who had more experience; he talked about how they spend
the time and how they learned to hide emotions; and the longings… and of the
bride who was expecting his comeback;
-
I
did not need to write to a war godmother. I received letters from my bride.
Then,
conversation turned into the battle field. He remembered the bonds between the
soldiers, the feeling of suspicion, and the double-dealings. He recalled the
little fires lighted in the jungle that immediately gave them away. He told
about the “enemy” and how they fight.
He shared a
“war trophy”, tainted with blood:
-
People
were killed that day …
And this hurtful memory has never gone away. It
is always here… and he explains:
-
You
had to protect yourself.
With
trembling hands and voice he showed us old photos and notes kept during all
these years.
-
There
was no chance of winning the war. We were isolated. We were abandoned and our
guns were outdated. Those who were in charge did not understand this, or even
the past examples. This war had a deadline.
Later I had
to start all over again. I had to learn to live with the past… with these
terrible memories… with this pain… with all the transformations it caused in my
life.
-
However,
I am here. Safe and sound!
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
O Projeto Memória na Casa das Artes
Fala-se de nós. Fala-se das Memórias que guardamos e que partilhamos. Fala-se do tempo e da vida: aqui, ao minuto 23.
http://www.rtp.pt/play/p200/e107647/casa-das-artes.
http://www.rtp.pt/play/p200/e107647/casa-das-artes.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Serás tu e mais ninguém
The first four classified gained a trip to
Lisbon and an electric iron. During the contest other prizes were given and the
prince and princess of the Madeira Radio were elected. The jury was composed by
several elements: the chief Director of the Military Band, Sílvio Lindo Pleno,
Patricia, an artist from the local disco Golden Gate, the lawyer Fonseca Duarte
and the Director of the Municipal Band of Funchal, Abílio Pinto Ribeiro. The organizing
commission was formed by the Freitas brothers: Rufino, Mário and José and also
by Teodoro Silva. The Golden Gate orchestra directed by Fernando
Potier accompanied the singers.
Almost at the end of the night, Helena Paula
and Carlos Alberto announced the 2nd prize – CARLOS GAMA who had sung a bolero – Serás tu e mais ninguém, written by Teodoro Silva and composed by
the Freitas brothers. And so an unforgettable adventure started … and so did a
lifetime love affair.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
No Solar do Riberinho
Ontem à noite, o Projeto Memória das Gentes foi acolhido em Machico. Agradecemo-lo à equipa do Solar do Ribeirinho, à Universidade Senior, à Câmara Municipal e à Junta de Freguesia. Contamos convosco!
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Esta vai ser a minha terra.
Refere-se à África do Sul, a Durban. Aquilo sim, que era o
mundo. Na Madeira, na Fajã, o trabalho era duro e a vida difícil. A chegada à
África do Sul foi um sonho. Aquela era
uma cidade com mar e amigos.
- Não vou voltar à
Madeira!
Maria tinha 16 anos. Já estava casada com um rapaz que não
conhecia. Assim: ele – vamos chamar-lhe M.
– veio à Madeira com intenção de casar. Um primo provocou o encontro, trocaram
olhares, receberam a bênção do pai, apertaram a mão e casaram na Igreja de S.
Pedro – que o tempo não era de festas.
A África do Sul foi a sua vida. Hoje, tem pena de ter
voltado, de ter vendido tudo, de ter perdido aquela terra, aquelas gentes,
aquela vida. Afinal, as áfricas não são todas iguais....
Maria trouxe-nos passaportes. Estão ali os seus caminhos,
afinal.
It meant
South Africa, Durban. She had finally seen the world. Back in Madeira, in the
country side life was hard and miserable. Arriving to South Africa was a dream
came true. She encountered old friends and relatives.
This is
where I want to live
-
I am not ever going back to Madeira!
Maria was
16 years old. She had just married to a young boy she had met once. He had come
to Madeira to look for a bride. A cousin arranged the meeting. After a quick
glimpse, he talked to the girl’s father,
gave a hand shake to seal the matter and
the young couple married at S. Peter’s church in Funchal – a family dinner was
more than enough.
She is a
cheerful lady. She laughs at lot, she sings and occasionally she drops a tear (
when painful memories get in the way). She has worked hard but she enjoys life.
She regrets
having returned to Madeira. The family had to sell everything they owned … and part of
her was left there. South Africa was a good place to live in.
Maria
showed us some old photos and her passports… so as to show us the endeavours of (her)
life.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
MARCOS TEIXEIRA e o(s) caminho(s) que a vida lhe indicou
O que leva um miúdo de 12 anos a embarcar sozinho para o Brasil? O que sente um menino quando separa os seus olhos dos olhos da mãe que fica no cais, sem metade do coração? O que significa o silêncio da lembrança quando a lancha se afasta do cais e a terra vai ficando longe?
Começou assim a entrevista com Marcos Teixeira. Primeiro, o
Seixal, a escola, a professora, a terra, a vida. O pai já estava embarcado na
Venezuela. Em dia de carta, juntavam-se todos à volta da mesa, à luz de uma
lamparina. A mãe lia a carta e guardava a remessa:
– vinha sempre um dinheirinho para pagar a venda.
Olha com ternura para o passado que a memória lhe traz.
Ilustra a sua história, com retratos que fotocopiou par nos mostrar:
- a minha mãe, eu e os meus irmãos. Eu era o do meio. Esse
rapazinho de fato e gravata sou eu. Foi para a viagem:
E avança: a aventura,
a viagem no Salta, o encapelamento do mar, os clandestinos que iam no barco:
- Havia um cesto que passava debaixo da mesa. Cada um metia
lá dentro alguma coisa: um pão, fruta…. Eram quatro, desembarcaram no Rio de
Janeiro com os nossos passaportes que alguèm nos trouxe, depois, de volta . É
que eu ia para Santos.
Na sua história, há um Brasil doloroso, com saudades da mãe,
há um menino que chora quando a noite vem, há a chegada do pai e depois da mãe
e dos irmãos….
Na sua história, há a Venezuela, a padaria, o quarto, a arte
de estofador, a música… a música. Na sua história, há um disco (http://www.youtube.com/watch?v=leFMen96i60),
o gosto de cantar, o negócio, o trabalho, a casa, o amor, os filhos.
Na sua história, há o sucesso, o medo, a insegurança. E a
saudade do cais. Em 1977, veio à ilha pela primeira vez. Em 1980, vieram todos.
Em 1983, vem para ficar.
Da sua casa, via-se a Sé. Um desejo velho de quem sabe o que
é não estar. E ouvia-se o sino. Como dantes. E era-se feliz. Como nos sonhos.
É empresário. Falou com orgulho do que construiu, do amor
que tem à família, dos filhos, da vida que tem, entre o trabalho, a casa e a
igreja. Falou sem preconceitos de si, dos seus, de Deus.
Um homem de fé, sim. Um homem feliz.
Marcos
Teixeira … Life has showed him the way
What was
the real reason for flying to Brazil at the age of twelve? What did a young boy
feel when he looked back and saw the tears in his mother’s eyes and her broken
heart? How heavy was the silence that accompanied him in the rowboat that took
him on board the vessel?
This is how
the interview has started. Marcos Teixeira talked first about his childhood in
Seixal, the school, the teacher, his house and everyday life. He explained his
father had already gone to Venezuela. He was two years old and could hardly
remember his face. Whenever a letter arrived, he and his brothers sat around the
kitchen table, his mother lighted the oil lamp and read the letter. She also kept
the money that had been sent inside the envelope:
-
It helped to pay the greengrocer’s
bill.
Marcos looks
back with tenderness and while talking he showed us some old pictures.
-
My mother, me and my brothers. I am
here, in the middle. I was dressed in a suit and tie. This picture was taken
for the passport:
And he carried
on: he talked about adventure, about the vessel, the Salta from Argentina, he remembered the rough sea and also those
who travelled undercovered:
-
There was a basket hidden under the
table. Everyone tried to put something inside: a piece of bread, some fruit …
there were four of them, they landed in Rio de Janeiro with our passports…
later someone brought them back. I needed my passport to land in Santos.
We have noticed some pain and some sadness. The
young boy missed his mother terribly …. He cried almost every night and sometime
later, his father joined him and so did his mother and his brothers …
In Venezuela he started working in a baker’s.
Then he decided to learn a job: upholsterer and he also started singing … he
even recorded a single http://www.youtube.com/watch?v=leFMen96i60). Those were fantastic days! He started
his own business, had a house built and fell in love.
But there was also fear and a lot of
insecurity. And most of all he missed his home land. He visited Madeira in
1977. He came back for another visit with the whole family in 1980. In 1983
they settled down in Funchal.
He found a house with a view over the city and
from where he could look at the Cathedral. He could also hear the church bells.
Like it used to be when he was a child in Seixal. A dream came true!
Today he is a local businessman. He has shared
his story. He has opened his house and his heart … he is spiritual man, indeed.
He is a happy man, indeed!
sábado, 2 de fevereiro de 2013
A propósito
Acabo de ler isto:
<Gosto muito das linhas que Certeau escreve (...): <O quotidiano é o que nos revela mais intimamente... é uma história a meio caminho de nós mesmos, quase em retrato, por vezes velado ; não devemos esquecer este <mundo-memória>, segundo a expressåo de Péguy. A tal mundo estamos presos pelo coração, memória olfativa, memória dos lugares de infancia, memória do corpo, dos gestos, dos prazeres...O que interessa ao historiador do quotidiano é o invisível>.
Mendonça, JoséTolentino, 2012, Nenhum caminho será longo, p.84.
Subscrever:
Mensagens (Atom)