Joel tem a guerra guardada dentro da voz. Entre a emoção e o
sorriso fala da Guiné, do serviço militar [ que era obrigatório], do espírito de
aventura que levou no barco.
- O Ultramar era uma forma de sair da ilha. Por isso, os
madeirenses viam isto de uma maneira diferente.
E o isto era a guerra. Apesar do fantasma da morte. Apesar.
Numa rajada de palavras, falou-nos do silêncio que se seguia
ao medo:
- Durante o fogo não há tempo: eles mandam, a gente
manda..... mas depois.... depois, não se pensa em nada. Olhamos uns para os
outros e esvaziamo-nos. É como uma bola cheia de ar....
E fala de outras coisas: da juventude que amadureceu de
repente; no outro eu que regressou,
na aflição persistente mesmo em tempo de paz : da angústia no meio da multidão;
na necessidade de se proteger continuamente:
- quem vai à guerra, fica de guarda. Para sempre.
Trouxe-nos documentos – memórias de papel: aerogramas que
recebeu de outros rapazes [- os da minha mulher, não. Não tenho esse direito.
],trouxe-nos o Diário do seu batalhão [está aqui a nossa vida toda], trouxe-nos
um dossiê de imprensa que construiu ao longo do tempo.
- É preciso não esquecer. – diz ele – É preciso não esquecer.
We must not forget
Joel has locked war inside his voice. Through emotion
and a disguised smile he told us about Guiné and about military service
[compulsory] and about adventure, the reason why some many young boys boarded
on the vessels.
-
Going to Overseas was the easiest way
to get out of the island. This is why Madeirans saw it differently.
And this was war meant. Even though the shadow of
death was always there.
Throwing words rapidly as if shooting a gun, he spoke about
the silence that followed fear:
-
During shooting there is no time:
they fire, we fire… and then… then…. We think about nothing. We look at each
other and we empty ourselves. It is like an air bubble… full of nothing….
And the remembered other things: of growing up too
fast, of the other self he has brought back with him, of the constant anxiety, of
the fear of crowds and of the need of being in permanent alert:
-
Those who have gone to war, are
always on guard. Forever!
He has shared some documents with us – memories kept
in papers: letters he has received from friends [not his wife’s, he couldn’t
share those] the journal of the battalion [ where our lives was written] and a
press journal he has gathered along these years.
-
We have to remember- he adds. It is
important not to forget.
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