(...)
- Da última vez que o fui ver, ele entregou-me esta fotografia
Era um retrato velho, a preto e
branco, amarelado de tempo e carteira: um grupo de miúdos, com esperança e
risos no olhar, esboçava a vitória com os dedos, ao lado de um soldado, de arma
em punho (o Zé sabia o tipo de espingarda ou metralhadora que era). Também o
soldado olhava para a objectiva com a felicidade tatuada no sorriso. Era uma
fotografia tirada pelo Zé, no Largo do Carmo, com uma máquina velha que ainda
funcionava, na manhã do dia 25 de Abril.
A fotografia passou pelas mãos de todos. E todos
sabiam exactamente o significado que ela tinha para o amigo. Há gente que
guarda na carteira o retrato da mãe, do pai, da mulher ou da amante. O Zé
guardava esta fotografia e olhava para ela, vezes sem conta, sempre que
precisava matar saudades do tempo em que havia esperança.(de um texto por publicar)
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