quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sobre retratos, memórias e esperanças


(...)
 
- Da última vez que o fui ver, ele entregou-me esta fotografia

 Era um retrato velho, a preto e branco, amarelado de tempo e carteira: um grupo de miúdos, com esperança e risos no olhar, esboçava a vitória com os dedos, ao lado de um soldado, de arma em punho (o Zé sabia o tipo de espingarda ou metralhadora que era). Também o soldado olhava para a objectiva com a felicidade tatuada no sorriso. Era uma fotografia tirada pelo Zé, no Largo do Carmo, com uma máquina velha que ainda funcionava, na manhã do dia 25 de Abril. 
A fotografia passou pelas mãos de todos. E todos sabiam exactamente o significado que ela tinha para o amigo. Há gente que guarda na carteira o retrato da mãe, do pai, da mulher ou da amante. O Zé guardava esta fotografia e olhava para ela, vezes sem conta, sempre que precisava matar saudades do tempo em que havia esperança.

(de um texto por publicar)

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