segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ADOLESCENCIA IRREVERENTE - PARTE I

Começaram a chegar pedaços de vidas. São narrativas, memórias, saudades... 
Teresa Valério, natural de São Vicente, mandou-nos 
 
  Adolescência Irreverente

 Talvez acorde as lembranças de outras pessoas. As suas, por exemplo.


Parte 1

Os primeiros anos da década de cinquenta no século XX foram férteis em momentos de lazer e actividades desportivas que trouxeram um certo burburinho ao Norte da Ilha, onde um grupo de amigos, dando azo à sua imaginação, se lançou a convidar e orientar rapazes com alguma aptidão para o futebol. São Vicente era ponto estratégico por ser equidistante das duas freguesias vizinhas, Ponta Delgada e Seixal, ponto de passagem obrigatória para aquelas localidades. Sendo um lugar aprazível, começou por haver aos domingos um ponto de encontro que animava os muitos jovens ali residentes em particular, mas toda a população em geral.

O futebol dava assim os primeiros passos naquela região. Para maior animação fundaram três clubes e para poder praticá-lo com regularidade deitaram mãos à obra construindo um campo com dimensões mínimas no Calhau à esquerda da foz da Ribeira, paralelo ao caminho que seguia para o Seixal, em plena orla marítima rodeado das pedras arredondadas e lisas que muitas vezes serviram de assentos.

O Botafogo integrava no seu plantel apenas jovens do sítio da Fajã da Areia, contava com a colaboração de emigrantes no Brasil orgulhosos e saudosos da sua terra que enviaram material e equipamento verde e amarelo, alem de colaborarem com algumas verbas para a sua manutenção. O Corvo, nome da ave que segundo a tradição, esteve vários dias a guardar o corpo do santo padroeiro, vestia de preto e vermelho. O Arsenal equipava-se de azul e branco. Todos mantinham entre si uma normal rivalidade, mas o Corvo e o Arsenal que recrutavam jogadores de toda a freguesia, a adversidade era mais acentuada especialmente entre os adeptos que discutiam muito, por vezes amuavam, chegando ao ponto do corte de relações.  

 
Todos os domingos de Verão o Calhau vivia momentos de muita animação atingindo por vezes a euforia transformando-se num autêntico arraial. Quando organizavam torneios por norma convidavam os jovens da Ribeira Brava e como bons anfitriões não faltavam os agradáveis convívios que culminavam em agitado alvoroço na Vila pela noite fora.

Os dois maiores clubes do Funchal tinham um acordo de cavalheiros e colaboravam enviando os seus jogadores para ensinarem as regras, técnicas e truques, aproveitando o ensejo para fazerem o seu jogo-treino semanal. O Marítimo dava apoio ao Corvo, enquanto o Nacional ajudava o Arsenal, daí que a minha simpatia pelos alvinegros tenha surgido nessa altura em plena adolescência.

Vivendo eu no sítio da Terra-chã, sobranceiro ao Calhau, tinha autorização para assistir aos jogos se acompanhada com determinadas amigas, mas condicionada a participar na novena que aos domingos era celebrada na igreja paroquial.

Um dia ...

[ quarta-feira continuamos...]

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