Teresa Valério, natural de São Vicente, mandou-nos
Adolescência Irreverente
Talvez acorde as lembranças de outras pessoas. As suas, por exemplo.
Parte 1
Os primeiros anos da década de
cinquenta no século XX foram férteis em momentos de lazer e actividades
desportivas que trouxeram um certo burburinho ao Norte da Ilha, onde um grupo
de amigos, dando azo à sua imaginação, se lançou a convidar e orientar rapazes
com alguma aptidão para o futebol. São Vicente era ponto estratégico por ser
equidistante das duas freguesias vizinhas, Ponta Delgada e Seixal, ponto de
passagem obrigatória para aquelas localidades. Sendo um lugar aprazível, começou
por haver aos domingos um ponto de encontro que animava os muitos jovens ali
residentes em particular, mas toda a população em geral.
O futebol dava assim os primeiros
passos naquela região. Para maior animação fundaram três clubes e para poder praticá-lo
com regularidade deitaram mãos à obra construindo um campo com dimensões
mínimas no Calhau à esquerda da foz da Ribeira, paralelo ao caminho que seguia
para o Seixal, em plena orla marítima rodeado das pedras arredondadas e lisas
que muitas vezes serviram de assentos.
O Botafogo integrava no seu
plantel apenas jovens do sítio da Fajã da Areia, contava com a colaboração de
emigrantes no Brasil orgulhosos e saudosos da sua terra que enviaram material e
equipamento verde e amarelo, alem de colaborarem com algumas verbas para a sua
manutenção. O Corvo, nome da ave que segundo a tradição, esteve vários dias a
guardar o corpo do santo padroeiro, vestia de preto e vermelho. O Arsenal
equipava-se de azul e branco. Todos mantinham entre si uma normal rivalidade,
mas o Corvo e o Arsenal que recrutavam jogadores de toda a freguesia, a
adversidade era mais acentuada especialmente entre os adeptos que discutiam
muito, por vezes amuavam, chegando ao ponto do corte de relações.
Todos os domingos de Verão o
Calhau vivia momentos de muita animação atingindo por vezes a euforia
transformando-se num autêntico arraial. Quando organizavam torneios por norma
convidavam os jovens da Ribeira Brava e como bons anfitriões não faltavam os
agradáveis convívios que culminavam em agitado alvoroço na Vila pela noite fora.
Os dois maiores clubes do Funchal
tinham um acordo de cavalheiros e colaboravam enviando os seus jogadores para ensinarem
as regras, técnicas e truques, aproveitando o ensejo para fazerem o seu
jogo-treino semanal. O Marítimo dava apoio ao Corvo, enquanto o Nacional
ajudava o Arsenal, daí que a minha simpatia pelos alvinegros tenha surgido nessa
altura em plena adolescência.
Vivendo eu no sítio da Terra-chã,
sobranceiro ao Calhau, tinha autorização para assistir aos jogos se acompanhada
com determinadas amigas, mas condicionada a participar na novena que aos domingos
era celebrada na igreja paroquial.
Um dia ...
[ quarta-feira continuamos...]
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