Quem mais costumava ir ao Teatro
eram os simpatizantes do Corvo que tinham maior poder económico, mas nesse dia,
mal terminou o encontro, muitos desapareceram irritados. Os jogadores e dirigentes
do Arsenal chegaram ao Teatro roucos, foram aclamados e ovacionados que até parecia
não haver outras cores ali dentro. O Arsenal ganhou no mesmo dia três taças:
Simpatia, votada com os bilhetes no Teatro, Torneio e porque marcara mais um
golo do que o Corvo durante a época, recebeu o respectivo troféu.
Foi uma noite plena de emoções,
alegre e feliz.
Terminada a festa, descemos a pé
em cantoria e não sentimos o caminho.
Ao chegar a casa por volta das
dez horas da noite fui recebida com uma surpresa. A minha mãe estava atrás da
porta e sem mais qualquer conversa deu-me duas vergastadas com uma cepa de
videira dizendo: “Toma lá que é para saberes que não te autorizei a ires ao
teatro. Ainda és muito nova para tomares decisões. Se tivesses vindo a casa
podias levar a tua irmã.”
Sabendo que se tivesse ido para
casa não voltaria a sair, apesar de combalida e ferida no meu orgulho,
continuei feliz, porque a festa e a alegria foram superiores à mazela.
A minha irreverência deixou
marca, tentei imitar alguns jovens da minha idade que gozavam de uma certa
liberdade, mas o meu atrevimento foi mal sucedido e envergonhada com a marca
nas pernas, não saí de casa durante uma semana. Foi a única vez que recordo ter
apanhado com uma vergasta.
No dia seguinte fiquei a saber
que havia um bouquet para entregar ao vencedor, mas como não ganhara o Corvo,
as flores apareceram estragadas atrás de um camião.
E como há sempre um poeta em cada
canto, também aqui houve alguém que improvisou umas quadras alusivas ao
acontecimento e as fez distribuir nas casas dos dirigentes e aficionados do
Clube adversário.
Diziam assim:
E numa
tristeza insana
Na cabeça
tantas dores,
Com beiças e muita
gana
Estragaram as flores.
Tudo estava
preparado
Festa, sandes
e canjinha
Mas o ovo foi contado
No traseiro
da galinha.
E sem esquecer
os heróis do acontecimento:
Com Almeida e
grande Elias
Um Fernando e um Garcês
Não vale a
pena arrelias
Pois perdem
p/ra outra vez.
Teresa Valério
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